Como um papa reza?
O relato detalhado das suas  experiências mais humanas como pontífice é uma das novidades do livro,  fruto da terceira sessão de conversas concedidas ao jornalista alemão  Peter Seewald, depois das duas anteriores, antes de ser eleito Papa, que  foram traduzidas nos livros "O sal da terra" e "Deus e o mundo".
Bento  XVI explica em primeira pessoa, por exemplo, como é sua relação pessoal  com Deus. "A oração e o contato com Deus são agora mais necessários e  também mais naturais e evidentes que antes", reconhece, e assegura que,  em meio à sua intensa atividade, "acontece, sem dúvida, a experiência e a  graça de estado".
"Também eu sou um simples mendigo frente a  Deus, e mais que todas as demais pessoas - revela. É claro que rezo  sempre em primeiríssimo lugar ao nosso Senhor, com quem tenho uma  relação de tantos anos. Mas também invoco o Espírito Santo."
"Entro  na comunhão dos santos - acrescenta. Com eles, fortalecido por eles,  falo então também com Deus, sobretudo mendigando, mas também agradecendo  ou simplesmente com alegria."
Sobre sua eleição como sucessor  de João Paulo II, recorda: "Eu tinha certeza de que esse ministério não  era o meu destino e que, depois de anos de grande esforço, Deus ia me  conceder algo de paz e tranquilidade".
"Nesse momento, só pude  dizer para mim mesmo e deixar claro: ao parecer, a vontade de Deus é  outra, e começa algo totalmente diferente, novo para mim. Ele estará  comigo", explica com humildade.
Bento XVI constata que a  responsabilidade de um papa "é realmente gigantesca". Reconhece que  percebe que suas forças vão decaindo, que "tudo isso exige demais de uma  pessoa de 83 anos", mas destaca que, "graças a Deus, há muitos bons  colaboradores".
Ao mesmo tempo, é consciente de que, para  responder a todos os requerimentos, "é preciso ater-se com disciplina ao  ritmo do dia e saber quando é preciso ter energia".
Em sua vida  cotidiana, Bento XVI não pratica esportes; acompanha diariamente as  notícias e às vezes também assiste a algum DVD com seus secretários.  "Gostamos de ver Don Camillo e Peppone", explica. Também revela que, nos dias festivos, escutam música e batem papo.
Afirma  não ter medo de um atentado e reconhece: "Poucas são as pessoas que têm  tantos encontros, como eu. Sobretudo, são importantes para mim os  encontros com os bispos do mundo inteiro".
Diz sentir-se  reconfortado com as muitas cartas que recebe de pessoas simples que o  incentivam, assim como presentes e visitas. "Sinto também o consolo 'do  alto'; experimento a proximidade do Senhor na oração; e na leitura dos  Padres da Igreja, vejo o esplendor da beleza da fé".
Com relação  ao seu predecessor, Bento XVI afirma que se sabe "realmente um devedor  seu que, com sua modesta figura, procura continuar o que João Paulo II  fez como gigante. (...) Junto aos grandes, tem que haver também pequenos  papas que ofereçam o pouco que têm", indica.
Renúncia ao papado
Nas  conversas com Seewald, que aconteceram em Castel Gandolfo durante 6  dias do último mês de julho - uma hora por dia -, Bento XVI não fechou a  porta à possibilidade de renúncia ao papado.
"É possível  renunciar em um momento sereno, ou quando já não se é capaz - disse. Se o  papa chega a reconhecer com clareza que física, psíquica e mentalmente  já não pode suportar o peso do seu ofício, tem o direito e, em certas  circunstâncias, também o dever de renunciar."
Dos seus 5 anos de  pontificado, destaca as viagens a diversos países, a celebração do Ano  Paulino, do Ano Sacerdotal e os dois sínodos, sobretudo o da Palavra de  Deus.
"Por outro lado, estão esses grandes períodos de escândalo  e as feridas na Igreja", indica, mas afirma que elas "têm para nós uma  força purificadora e, no final, podem ser elementos positivos".
Com  transparência, o Papa também reconhece estar decepcionado com algumas  realidades: "Decepcionado sobretudo por existir no mundo ocidental esse  desgosto com a Igreja, pelo fato do secularismo continuar tornando-se  autônomo, pelo desenvolvimento de formas nas quais os homens são  afastados cada vez mais da fé, pela tendência geral da nossa época de  continuar sendo oposta à Igreja"
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