quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A ORAÇÃO DE UM PAPA (ZENIT)

Como um papa reza?
O relato detalhado das suas experiências mais humanas como pontífice é uma das novidades do livro, fruto da terceira sessão de conversas concedidas ao jornalista alemão Peter Seewald, depois das duas anteriores, antes de ser eleito Papa, que foram traduzidas nos livros "O sal da terra" e "Deus e o mundo".
Bento XVI explica em primeira pessoa, por exemplo, como é sua relação pessoal com Deus. "A oração e o contato com Deus são agora mais necessários e também mais naturais e evidentes que antes", reconhece, e assegura que, em meio à sua intensa atividade, "acontece, sem dúvida, a experiência e a graça de estado".
"Também eu sou um simples mendigo frente a Deus, e mais que todas as demais pessoas - revela. É claro que rezo sempre em primeiríssimo lugar ao nosso Senhor, com quem tenho uma relação de tantos anos. Mas também invoco o Espírito Santo."
"Entro na comunhão dos santos - acrescenta. Com eles, fortalecido por eles, falo então também com Deus, sobretudo mendigando, mas também agradecendo ou simplesmente com alegria."
Sobre sua eleição como sucessor de João Paulo II, recorda: "Eu tinha certeza de que esse ministério não era o meu destino e que, depois de anos de grande esforço, Deus ia me conceder algo de paz e tranquilidade".
"Nesse momento, só pude dizer para mim mesmo e deixar claro: ao parecer, a vontade de Deus é outra, e começa algo totalmente diferente, novo para mim. Ele estará comigo", explica com humildade.
Bento XVI constata que a responsabilidade de um papa "é realmente gigantesca". Reconhece que percebe que suas forças vão decaindo, que "tudo isso exige demais de uma pessoa de 83 anos", mas destaca que, "graças a Deus, há muitos bons colaboradores".
Ao mesmo tempo, é consciente de que, para responder a todos os requerimentos, "é preciso ater-se com disciplina ao ritmo do dia e saber quando é preciso ter energia".
Em sua vida cotidiana, Bento XVI não pratica esportes; acompanha diariamente as notícias e às vezes também assiste a algum DVD com seus secretários. "Gostamos de ver Don Camillo e Peppone", explica. Também revela que, nos dias festivos, escutam música e batem papo.
Afirma não ter medo de um atentado e reconhece: "Poucas são as pessoas que têm tantos encontros, como eu. Sobretudo, são importantes para mim os encontros com os bispos do mundo inteiro".
Diz sentir-se reconfortado com as muitas cartas que recebe de pessoas simples que o incentivam, assim como presentes e visitas. "Sinto também o consolo 'do alto'; experimento a proximidade do Senhor na oração; e na leitura dos Padres da Igreja, vejo o esplendor da beleza da fé".
Com relação ao seu predecessor, Bento XVI afirma que se sabe "realmente um devedor seu que, com sua modesta figura, procura continuar o que João Paulo II fez como gigante. (...) Junto aos grandes, tem que haver também pequenos papas que ofereçam o pouco que têm", indica.
Renúncia ao papado
Nas conversas com Seewald, que aconteceram em Castel Gandolfo durante 6 dias do último mês de julho - uma hora por dia -, Bento XVI não fechou a porta à possibilidade de renúncia ao papado.
"É possível renunciar em um momento sereno, ou quando já não se é capaz - disse. Se o papa chega a reconhecer com clareza que física, psíquica e mentalmente já não pode suportar o peso do seu ofício, tem o direito e, em certas circunstâncias, também o dever de renunciar."
Dos seus 5 anos de pontificado, destaca as viagens a diversos países, a celebração do Ano Paulino, do Ano Sacerdotal e os dois sínodos, sobretudo o da Palavra de Deus.
"Por outro lado, estão esses grandes períodos de escândalo e as feridas na Igreja", indica, mas afirma que elas "têm para nós uma força purificadora e, no final, podem ser elementos positivos".
Com transparência, o Papa também reconhece estar decepcionado com algumas realidades: "Decepcionado sobretudo por existir no mundo ocidental esse desgosto com a Igreja, pelo fato do secularismo continuar tornando-se autônomo, pelo desenvolvimento de formas nas quais os homens são afastados cada vez mais da fé, pela tendência geral da nossa época de continuar sendo oposta à Igreja"

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