segunda-feira, 26 de abril de 2010

SALESIANIDADE - fatos que marcaram vida de Dom Bosco

AS FONTES DA HISTÓRIA PRIMITIVA DA CONGREGAÇÃO DE D. BOSCO


P
e. Antenor de Andrade, sdb.
Entre as fontes diversas e multiformes que nos oferecem abundantes e ricos conhecimentos sobre a história primitiva ou atual da Congregação dos Salesianos estão sem dúvida os fatos ocorridos com D. Bosco, durante seus setenta e três anos de existência. Por serem um marco importante na sua vida e obra indicaremos desde logo três episódios muito conhecidos. Estes fatos ajudam a entender melhor a vida espiritual e apostólica do santo. São eles:
• O sonho dos “nove anos”.
• O encontro com Bartolomeu Garelli.
• A Carta de Roma (10/05/1884).
• O sonho dos nove anos
Na biografia de João Melchior Bosco narram-se uma série de sonhos. O primeiro destes fenômenos aconteceu quando ele era ainda uma criança. Tinha nove anos e se encontra em meio a diversos meninos que faziam algazarra e blasfemavam. Ouvindo as blasfêmias o pequeno João parte para a luta corporal com aqueles pobre moleques, tentando fazer com que se calassem. Naquele momento aparece um homem bem vestido e de rosto resplandecente, que ao observar a pancadaria, aproxima-se de Bosco e lhe diz que não era com pancadas, mas com mansidão e carinho que ele conseguiria fazer daqueles jovens seus amigos.
Há discussões se estes acontecimentos seriam realmente sonhos ou visões. D. Bosco mesmo não nos deixou muito clara a idéia de ter compreendido plenamente o valor daqueles eventos. Não obstante, aquele fato permaneceu profundamente gravado em sua mente, durante toda a vida. Jamais os esqueceu e deixou de dar-lhes atenção, sobretudo porque em certas ocasiões funcionaram como premonição, informando sobre a morte próxima de algum aluno ou mesmo salesiano.
O carinho, a caridade e a mansidão apresentados pelo homem venerando e de aspecto varonil, personagem do sonho dos nove anos foi aceito por D. Bosco como um dos tripés da práxis pedagógica, de seu Sistema Preventivo, ou pedagogia do ambiente.
A Senhora majestosa e resplandecente que juntamente com a figura masculina esteve presente durante aquele sonho-visão tornou-se a conselheira diuturna, a Mãe e Mestra da obra salesiana em favor dos jovens. Ela “indicou a D. Bosco seu campo de ação entre os jovens e constantemente o guiou e sustentou , na fundação da nossa Sociedade.
• Bartolomeu Garelli, o Oratório e a Congregação Salesiana

Outro marco indelével de sua vida apostólica está no encontro com o jovem camponês analfabeto, Bartolomeu Garelli. O diálogo aconteceu na sacristia da Igreja de São Francisco de Sales, em Turim, aos oito de dezembro de 1841. Celebrava-se então a festa da Imaculada Conceição. Naquela data e naquela sacristia nascia o primeiro Oratório Salesiano, hoje difundido por todo o mundo pelos filhos do amigo dos jovens. Após a Missa, D. Bosco realizou a primeira reunião de sua futura Sociedade religiosa. Começou com uma Ave Maria e um adolescente que aos 16 anos não sabia fazer o sinal da Cruz.
Os salesianos consideram o encontro com Garelli como o início da Sociedade. Plantava-se ali a pedra fundamental da Congregação dos jovens. Com uma Ave Maria o santo piemontês dava início ao «movimento de pessoas que de vários modos trabalhariam para a salvação da juventude».
Uma sacristia tornava-se o símbolo da pesca milagrosa das águas da Galiléia. Dois Mestres: Jesus, o de Simão Pedro e Bosco, o de Bartolomeu Garelli. Tanto o Pastor da Galiléia, como o das colinas dos Becchi precisariam de colaboradores. Assim o foi no episódio das águas do Tiberíades, assim seria na sacristia turinesa, imagem e início do mar bosquiano.
O Oratório, casa, pátio, Igreja e escola, lugares catequéticos para D. Bosco, tornou-se seara e instrumento de salvação da juventude. Hoje continua sendo um abrigo para todos os Garelli, que perambulam tristes nas ruas, praças, botecos, pontes, canteiros de obras ou em cárceres . É o lar que acolhe, o refúgio dos que precisam de uma «sacristia», onde deverão encontrar um padre amigo e não um sacristão violento e mal humorado.
O Oratório salesiano consolida-se em 1842, acolhendo inicialmente só os jovens mais perigosos, especialmente os saídos das prisões. Posteriormente vamos encontrar entre eles rapazes de boa conduta e instruídos. Ajudavam na disciplina e na moralidade, nas leituras e cânticos das funções litúrgicas. Chamavam-se os “maestrini”, pequenos mestres e deveriam mais tarde, integrar o «grupo de estudantes» de onde surgiriam colaboradores mais preparados e até salesianos.
Os primeiros oratorianos eram em geral escultores, pedreiros, assentadores de ladrilhos, estucadores. Trabalhavam nas obras de Turim. A partir de 1842, o setor construção começou a apresentar grande surto na cidade. À medida que o grupo dos moços aumentava, fazia-se necessário estabelecer um corpo de normas administrativas e disciplinares, a fim de que não se tornasse um aglomerado desordenado e indisciplinado. D. Bosco começou assim a preparar um Regulamento para aqueles jovens. Consultou diversos outros Regulamentos de Oratórios como As Regras do Oratório de S. Luís, de Milão e As Regras para os Filhos do Oratório.
Um dos cuidados principais era deixar claro o objetivo de seu trabalho educativo com a juventude , a salvação de suas almas o da mihi animas. Tratava-se do início da sistematização do organismo que iria ser a sua Congregação, uma “Sociedade que não nasceu de simples projeto humano, mas por iniciativa de Deus”.

• A Carta de Roma

Estamos na Primavera de 1884. D. Bosco está em Roma, preocupado com diversos problemas:
a) A construção da Igreja do Sagrado Coração (próxima da enorme Estação Termini) exige grandes somas que ele tem que conseguir através de pedidos e doações;
b) O pensamento de conseguir um Estatuto jurídico para sua Congregação não lhe sai da mente.
c) Uma de suas constantes preocupações era o desejo de estabilizar e dar unidade às suas obras e concretizar o estilo de educação, próprio de seu sistema preventivo.
d) Todas estas dificuldade tiram-lhe o sono e robustez e ele o sabe e sente, face ao crescente estado de debilidade de sua saúde.

É nesta atmosfera que vem a lume a Carta de Roma escrita aos jovens e educadores de Valdocco, a quem ele chama de Caríssimos filhos em Jesus Cristo.
Figuras de proa da Congregação, como Pe., Álbera, sdb (1845-1921) e Pietro Stella referiram-se a este documento afirmando que é “o comentário mais autêntico do Sistema Preventivo” (Dom Álbera). P. Stella escreveu que “o seu conteúdo é de se considerar como um dos mais ricos documentos pedagógicos de D. Bosco”.
Ao refletirmos sobre o hino da caridade, composto por S. Paulo e a Carta de Roma, creio que não estaremos equivocados se dissermos como Gianni Ghiglione que D. Bosco fez quase um comentário perfeitamente educativo ao hino de S. Paulo. Para Joseph Aubry a Carta é como um testamento. Deve ser encarado com seriedade, pois o que um testamento pede deve ser cumprido.
Pe. Bartolomeu Fascie, sdb (1861-1937) quando Conselheiro escolástico, em uma apresentação sobre o texto escrevia:

«O senhor nos dê a graça de lê-la com filial e devota atenção para extrair dela aquele fruto de verdadeira caridade que é alma e vida do Sistema preventivo».

• O sentimento de paternidade na Carta de Roma

Amar e ser amado são dos sentimentos mais nobres do coração do homem, materializados na paternidade e na filiação. Não faz muito houve quem tentasse eliminar as características existentes entre filiação e paternidade. Freud anunciou “a morte do pai”, procurando anular desautorizar a autoridade.

Algumas denominações ou características de pais:
a) O pai cultural> os professores.
b) O pai político> a coronelança, triste fenômeno ainda hoje encontradiço no Brasil.
c) O pai capitalista> os patrões.
d) O pai biológico> os genitores.
e) O pai religioso> os padres.
f) O Pai de todos os pais> Deus.

A missiva de D. Bosco trata de um tema que hoje se tenta renovar, reconquistar. E também neste ponto está sua atualidade. Os nossos tempos procuram redescobrir a figura paterna, sente-se a necessidade de sua presença. Muito embora tantos genitores vivam separados, ou por motivos vários (emprego, viagens de negócio etc.) se encontrem com os filhos apenas nos finais de semana; não obstante, o pai de nossos dias não é mais visto como alguém a ser removido do caminho dos filhos e sim uma figura necessária para a formação e educação da prole. Alguém vizinho ao filho em quem ele confie, imite e tenha como ídolo.
Não se pode negar que uma das características da personalidade de D. Bosco era até que a perda do pai aos dois anos veio reforçar este sentimento, tão explícito e notório que a Igreja o chama de Pai e Mestre dos jovens. Sua bondade paterna não pode ser separada de seu estilo educativo.
O educador dos jovens de Turim soube ser para eles um pai bondoso, terno e ao mesmo tempo firme. Corrigia-os, amando-os com um ilimitado sentido de responsabilidade e dedicação. Não se cansava de estar com eles, não reclamava. Estava sempre alegre mesmo quando sua enorme resistência ao trabalho encontrava-se combalida pela enfermidade. Somente se ausentou fisicamente dos seus jovens quando por eles deu seu último suspiro. Amou-os até o fim, seguindo o exemplo do mártir do Gólgota de quem foi perfeito imitador. Basta que sejais jovens para que eu vos ame e pense sempre em vós.

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