D. BOSCO S. FRANCISCO DE SALES E OS SALESIANOS
P. Antenor de Andrade Silva, sdb.
• S. F. de Sales, um conterrâneo de D. Bosco
Joseph Aubry fala do “encontro” de D. Bosco com Francisco de Sales, separados no tempo por precisamente duzentos e quarenta e oito anos. Portanto, bem longe de se conhecerem pessoalmente.
Um dos primeiros motivos dessa aproximação, segundo o mesmo Aubry, é que ambos eram conterrâneos. Nem sempre atinamos para este fato histórico, mas é algo que pode ter influenciado na admiração do filho de Margarida em relação ao saboiano. Francisco nasceu em Thorens (1567) nas vizinhanças de Annecy no ducado da Sabóia, na época pertencente à Itália. Não obstante, não se considerava, nem se sentia francês nem italiano, mas pertencia à Sabóia, um dos Estados Sardos. Somente com o Tratado de Turim em 1860 é que a Sabóia passou para a França. Tanto a região do Castelo de Sales (na Sabóia) como o Piemonte integravam os Estados Sardos, cuja capital era Turim, a partir de meados do século XVI.
As pressões para fazer parte da corte de Paris, onde teria as mais altas honras eclesiásticas, a longa temporada estudando em Pádua e mais tarde vivendo Capital real, em Turim, servindo na Corte do Duque Carlos Emanuel I, não farão com que Francisco seja sempre savoiano e se orgulhará de sê-lo: «Eu juntamente com todos os meus sou verdadeiramente savoiano e não saberia ser outra coisa».
Sua fama e admiração de zeloso apóstolo e escritor se espalharam-se por muitas cidades do Piemonte. Amigo do soberano Carlos Emanuel, este com certo orgulho apresentava-o como «o S. Carlos Borromeu do seus Estados».
«Na época em que o jovem Bosco se formou, Francisco de Sales figurava verdadeiramente como santo nacional. Clero e aristocracia propagavam-lhe o culto e as obras. O próprio Cavour e família gloriavam-se de descender do tronco dos Sales».
A cidade de Chieri, local do Seminário de D. Bosco, orgulhava-se de ter hospedado Francisco de Sales em 1622, no Mosteiro de Santa Margarida das Dominicanas. As monjas conservam ainda vários objetos usados pelo santo, tais como trechos de discursos ali pronunciados e que posteriormente serviram como temas de meditação para aquelas religiosa. Pe. Barberis nos fala de uma feliz coincidência para os Salesianos de D. Bosco:
«O Mosteiro, onde S. F. de Sales morou, foi quase completamente destruído e destinado ao uso profano...; o alojamento usado por S. F. de Sales foi confiado aos Salesianos de D. Bosco, encarregados da Igreja e que ali abriram e conservam um Instituto com um florescente Oratório Festivo».
Um dos locais mais queridos por Francisco no Piemonte foi indubitavelmente a Capela Privada da Santa Síndone .
• Chieri e o Colégio Eclesiástico
O Seminário de Chieri e posteriormente o Colégio Eclesiástico de Turim (Convitto) foram locais, onde D. Bosco teve oportunidades de conhecê-lo melhor e cada vez mais se entusiasmar por ele. Ambas as instituições tinham como protetores S. Francisco de Sales, e S. Carlos Borromeu. Este em reconhecimento ao seu zelo e atividades no tempo da Contra-reforma ou Reforma Católica e pela fundação de Seminários; aquele pela fama e escritos de cunho espiritual . Ali, o grande santo e sábio São José Cafasso admirador do espírito salesiano, ensinou D. Bosco a “ser padre” e foi seu confessor por cerca de vinte anos. É provável que o jovem sacerdote na época iniciou-se no conhecimento das obras de F. de Sales. Mais tarde, quando escreveu o Jovem Instruído (1847) recomendou a leitura da Introdução à vida devota. Não se tem conhecimento que tenha lido outros escritos. Quando escolheu a frase bíblica «Dai-me almas e ficai com o resto» (Gen. 14, 21) como mote de seu apostolado, ao explicá-la mais tarde a Domingos Sávio, o fez de um modo um tanto vago, dizendo que eram palavras pronunciadas por S. Francisco de Sales.
• S. Francisco de Sales, um paradigma
A figura e a obra de um grande teólogo espiritual contemplada por D. Bosco em São Francisco impressionaram menos que a vida cotidiana do apóstolo, plena de caridade e bondade. Foi esta faceta do santo saboiano que conquistou o santo piemontês e fez com que ele decidisse imitar seus passos.
A escolha decisiva do patrono de seu Oratório teria sido orientada, segundo Pedro Stella, por circunstâncias que pareceriam casuais . À luz de documentos existentes e através da interpretação dos acontecimentos podemos concluir que houve motivações mais profundas que uma simples casualidade. Pensamos como um dos maiores estudiosos da religiosidade da época em que D. Bosco viveu que os tais fatos levaram D. Bosco a fundar uma obra religiosa sob a proteção e com o nome do bispo de Genebra. Note-se que o local escolhido sob a guarda de S. Francisco de Sales foi a mesma residência de D. Bosco, o Oratório. Referindo-se a este processo evolutivo, Stella, fala de “elegâncias divinas”. Deus mostra elegantemente os caminhos que se devem palmilhar, quando nos escolhe para instrumentos de suas obras. É o que aconteceu com o fundador dos Salesianos. Um dos primeiros discípulos do Santo escreveu:
«Os grandes e luminosos dotes que resplandeciam em D. Bosco, os fatos extraordinários que provinham dele e que todos admiravam, o seu modo singular de conduzir a juventude pelos caminhos árduos da virtude; as grandes perspectivas mostradas por ele de acreditar no futuro revelam alguma coisa de sobrenatural e pressagiam dias mais gloriosos para ele e para o Oratório».
Ele mesmo nos conta que a Marquesa Barolo tinha pintado a imagem de S. F. de Sales em diversos pontos do Refúgio, Internato ou obra social daquela senhora e onde alguns padres, inclusive o próprio D. Bosco prestavam seus serviços pastorais. O terreno e a maior parte da construção pertenciam ao governo A Marquesa pensava em fundar uma Congregação de padres com o nome de S. F. de Sales. D. Bosco mais tarde, explicando as razões da escolha do título São Francisco de Sales para o Oratório de Valdocco, “escreve nas Memórias do Oratório:
«1ª Porque a Marquesa Barolo pretendia fundar uma Congregação de padres com este título e com esta intenção tinha mandado pintar um quadro deste santo que ainda se observa na entrada do mesmo local. 2ª Porque nosso ministério, exigindo grande calma e mansidão, tínhamos colocado sob a proteção deste Santo, a fim de que nos obtivesse de Deus a graça de poder imitá-lo na sua extraordinária mansidão e em conseguir a salvação das almas. Outra razão era a de se colocar sob a proteção deste santo, a fim de que nos ajudasse do céu a combater os erros contra a religião, especialmente o protestantismo, que começava a insinuar-se insidioso em nossas regiões e visivelmente na cidade de Turim».
«A outra razão», que seria a terceira, foi acrescentada mais tarde , possivelmente com os problemas pastorais criados pela atuação dos protestantes valdenses e com reflexos perigosos para a fé popular, especialmente em Turim. D. Bosco gostava da maneira de atuar do apóstolo do Chablai: firme e ao mesmo tempo fraterna e bondosa ao enfrengtar a heresia valdense
Em sua primeira Missa o filho de Margarida formulou dez propósitos. Em um deles, o quarto, escrevia: a caridade, a bondade e a amabilidade de São Francisco de Sales guiem-me em tudo. O sonho de 1883 traz uma sugestão para os missionários: com a amabilidade de São Francisco de Sales, os salesianos atrairão a Jesus Cristo os povos da América.
Entre as oito bem-aventuranças da Família Salesiana uma nos diz que sejamos dóceis e mansos: bem-aventurados os mansos. É através desta virtude que conquistaremos os corações e os educaremos. Assim educação é obra que nasce no coração.
Por que o pregador de Nazaré conquistou e continua conquistando tantos corações nos quatro quadrantes do orbe? Porque era manso e humilde de coração.
Já observamos que a mansidão e a doçura não podem ser confundidas com fraqueza ou covardia. Ao contrário podem demonstrar coragem e firmeza capazes de enfrentar as violências e truculências de um mundo hostil e insensível. Sem iras nem rancores, mas com modos pacíficos, com benignidade e amabilidade. Desde o sonho dos nove anos que D. Bosco assumiu esta atitude, aceitando o conselho da Senhora que lhe apareceu naquela noite: não com maus tratos, mas com caridade e amor deverás conquistar estes teus amigos. A violência é a mãe da violência, produz uma reação em cadeia. A amabilidade e a doçura vencem a maldade e só com elas, dosadas com firmeza e constância poder-se-á construir no mundo uma civilização do bem querer e da fraternidade.
Não se pense que a doçura era um dom natural de D. Bosco. No sonho dos nove anos ele nos diz que acordou com os punhos doloridos pelos murros aplicara nos jovens blasfemadores. Em Chieri, nos primeiros anos de seminarista era tido como o mais colérico dos alunos. Paulatinamente e com muita vontade iniciou um árduo trabalho de renovação. Nesta conversão muito ajudaram as pregações que no Seminário ouvia sobre S. Francisco de Sales, no dia 29 de de cada ano, quando da celebração da festa do Santo. O propósito no dia da ordenação deveria orientá-lo em todas as suas atitudes ao tratar com os jovens.
No incipiente e humilde Oratório de 1884 seus meninos se reuniam diante de um quadro de São Francisco de Sales. A primeira Capela e posteriormente o próprio Oratório receberam o título de São Francisco de Sales.
• A difusão da boa leitura
A mente vulcânica de D. Bosco não descansava, procurando sempre novos meios de se colocar a serviço de uma ingente obra de evangelização. Havia entendido preventiva e profeticamente que um dos meios mais eficientes de defesa e penetração capilar seria a difusão das verdades, através da imprensa católica. Neste ponto a atitude de D. Bosco foi precursora, embora não se possa esquecer que se inspirava e seguia os caminhos de seu patrono na coragem em difundir a boa leitura. Multiplicou livros e opúsculos todos visando um mesmo objetivo: difundir o bem à massa periclitante dos jovens, ameaçados e indefesos. Surgiram assim as Leituras Católicas de estilo ágil e suculento, à maneira dos Folhetos Volantes distribuídos por S. Francisco nas suas missões pelo Chablais, ou jogados por baixo das portas das casas dos então hereges e inimigos da religião.
A ação de D. Bosco, intuindo e imitando o modo de agir de F. de Sales pode-se considerar uma primeira homenagem de reconhecimento ao grande e posteriormente Patrono da Imprensa Católica. O mesmo D. Bosco comenta esta sua posição em difundir a boa leitura, auto definindo-se «sequaz destes ensinamentos, ditados com o espírito de um S. F. de Sales».
«Esta difusão dos bons livros é um dos principais fins da nossa Congregação [...]. Com verdadeira satisfação vos aceno a uma só classe (da sociedade humana), a dos jovenzinhos, a quem sempre tenho procurado fazer o bem não apenas com a palavra viva, mas com os escritos. Com as Leituras Católicas ..., com o Jovem Instruído, com a coleção dos Clássicos e com a História da Itália [...] quis sentar-me ao lado deles na escola e livrá-los de tantos erros e tantas paixões, que talvez se tornassem fatais para o tempo e para a eternidade[...]. Finalmente com o Boletim Salesiano, entre as minhas muitas finalidades tive também este: de manter vivo nos jovens que retornam à família o amor ao espírito de S. F. de Sales e aos seus ensinamentos, e de fazer deles salvadores de outros jovens[...]. Eu vos peço e suplico, com vossa palavra e com vosso exemplo, fazei destes jovenzinhos outros apóstolos da difusão dos bons livros».
Este texto é um recado, uma tarefa que o Santo dá não só aos Salesianos professos, mas a toda a Família Salesiana, ex-alunos, salesianos cooperadores a todos os que foram educados sob o teto de alguma casa salesiana, protegida pelo Santo da Sabóia.
«Sob o nome de salesianos entendo significar todos os que foram educados com os princípios deste grande Santo [Francisco de Sales]. Assim pois, todos vós sóis Salesianos».
• O Boletim Salesiano
A estratégia da boa imprensa utilizada por D. Bosco recebeu mais um poderoso instrumento, a partir em Agosto de 1877, quando veio à luz se primeiro numero. Naquele ano o Santo criou um órgão para que difundisse seu pensamento e as atividades da mesma Congregação. O Boletim Salesiano passou a ser então o porta voz «daquela salesianidade que se inspirava nas maneiras e nos métodos à mente e à nobre figura de F. de Sales». Uma publicação ágil, ativa convocava para a ação forças leigas dos assim chamados Cooperadores salesianos. Tudo em nome do apóstolo do Chablais e com finalidade apostólica e eclesial. Periódico mensal, a partir de fevereiro de 1878 (6º número) trazia no frontispício a imagem do patrono, S. F. de Sales. Nos primeiros números podem ser lidos episódios e pensamentos do patrono, mais freqüentes, quando se preparava sua festa litúrgica interna em 29 de , ou a externa no domingo seguinte.
• Os títulos São Francisco de Sales e a obra de D. Bosco
Francisco de Sales, Salesianos ou Salesianas são títulos que através de D. Bosco se espalharam pelo mundo afora, onde houver uma atividade salesiana:
1. Sua primeira obra, o Oratório chamou-se de São Francisco de Sales.
2. O Oratório de Valdocco, Casa Mãe em Turim, levou o nome de São Francisco de Sales.
3. Em 1859, a sociedade religiosa fundada por D. Bosco é denominada Sociedade de São Francisco de Sales.
4. O patrono da Congregação de D. Bosco é São Francisco de Sales.
5. Os religiosos da Sociedade de São Francisco de Sales serão chamados Salesianos, em homenagem a Francisco de Sales, e, não Bosquianos, de João Bosco.
6. As religiosas da segunda Congregação fundada por D. Bosco e Madre Mazzarello, as Filhas de Maria Auxiliadora, são também conhecidas por Salesianas.
7. Ao correr do tempo foram surgindo os vários grupos que formam a Família Salesiana de D. Bosco (Salesianos Cooperadores, Cooperadoras Salesianas, Salesianos externos, Associação das Damas Salesianas).
8. Os ex-alunos ou ex-alunas são: ex-alunos salesianos, ex-alunas salesianas.
Hoje todos esses grupos continuam a encontrar e imitar em São Francisco de Sales uma espiritualidade do quotidiano, da alegria, da amabilidade e do otimismo. Uma casa salesiana sem estes componentes: alegria, bondade, otimismo não é verdadeiramente uma casa salesiana.
O Capítulo Geral XXIV estabelece que «o Conselho Geral promova e apóie outras... experiências e escolas para a formação de formadores... Seja dada atenção particular à espiritualidade de Francisco de Sales».
Por que esta preocupação manifestada naquela Assembléia Geral da Congregação Salesiana? Porque os padres capitulares bem sabiam que foi a espiritualidade do missionário da Sabóia que delineou o coração de D. Bosco, através da tradução prática que ele fez daquela espiritualidade e que posteriormente alimentou a formação de seus religiosos. As Constituições salesianas lembram que «inspirando-se na bondade e zelo de S. F. de Sales, D. Bosco deu-nos o nome de Salesianos».
O patrimônio típico do salesiano é, portanto a bondade, a doçura e o otimismo. Diz-se que Francisco era tão bom que causava admiração em quem dele se aproximava. Certa feita, alguém que o conheceu exclamou: se um homem é tão bom, como não será a bondade de Deus!
• A amizade salesiana uma prática constante em Valdocco
Já sabemos como a caridade foi uma das características mais apreciadas e mais cultivadas por F. de Sales, durante toda a vida. O sistema posto em prática por D. Bosco no Oratório tem a amizade como ponto essencial: sou teu amigo, considera-me sempre um teu amigo, dizia aos seus jovens.
• A bondade
Sales a via como uma espécie de primado entre as demais virtudes.
«É um fato real: não existe ninguém no mundo, pelo menos penso, que goste mais cordialmente, mais ternamente e com um amor maior que o meu. E foi Deus que me deu um coração assim».
Este primado da bondade foi vivido em Valdocco com os jovens. As palavras do pastor piemontês são quase uma cópia das escritas por S. Francisco. «Podeis encontrar alguém mais inteligente que eu, mas não encontrareis ninguém que vos ame mais que eu».
Nota-se esta atitude de São Francisco também com relação ao mundo. Sua intenção é conquistá-lo com a bondade. Preocupado com a situação em seu tempo escrevia em 1620:
«O mundo está se tornando tão delicado, que daqui para frente, não se ousará tocá-lo a não ser com luvas de veludo e suas chagas não poderão ser curadas senão com delicadeza. Mas, que importa, para que os homens sejam curados e por fim salvos»!
Comentário de nosso ex-procurador:
«quanta sensibilidade moderna e quanto espirito ecumênico nesta sua postura! É toda uma bondade dirigida para Deus, com a finalidade de se fazer com que Ele seja amado e não de uma maneira comum, mas de um amor dirigido à santidade».
• A santidade
São Francisco de Sales, como todos os santos fundadores de uma nova espiritualidade, traçou seu caminho próprio de santidade. D. Bosco o assumiu e deu-lhe novos contornos, determinados traços, fazendo surgir na Igreja diversos santos, adultos e jovens.
• A humildade
Nosso Santo dizia [Constituições da Congregação das Visitandinas] que devemos fazer tudo como espírito de humildade. Para uma melhor compreensão deste pensamento, primeiramente vejamos, a diferença entre o orgulho, o hábito do orgulho e o espírito de orgulho. Em seguida fasremos o mesmo entre humildade, o hábito da humildade e o espírito de humildade.
Trata-se de orgulho, quando cometermos um ato de orgulho; se frequentemente caímos neste ato em qualquer circunstância ou encontro, estamos então diante do hábito do orgulho; se gostamos de praticar tais atos e os procuramos, já somos na realidade portadores do espírito de orgulho. O mesmo acontece com a humildade. Quando cumprimos algum ato por humildade estamos praticando a humildade; se este ato acontece em toda ocasião ou momento que se nos apresente temos o hábito da humildade. O espírito de humildade é ter prazer quando se é humilhado, é procurar em tudo o avilamento, no que fazemos, dizemos ou desejamos.
A humildade e as ações alheias:
«É uma boa prática de humildade não olhar as ações dos outros, a não ser para observar as virtudes e jamais as imperfeições. [...] Precisamos sempre interpretar do melhor modo possível o que vemos no nosso próximo. Nas situações duvidosas devemos nos convencer que aquilo que notamos não é mal, mas é nossa imperfeição que faz pensar assim. Isto para evitar juizos temerários sobre ações dos outros, que é um mal muito perigoso e devemos sumamente evitar»
Nos Colóquios encontramos ainda outro conceito sobre o espírito de humildade e que, como todas as virtudes para consegui-lo é preciso muita prática, muitos atos repetidos:
«A humildade reduz a nada todas as coisas que não são necessárias para nosso progresso na graça, como seria o falar bem, ... (uma) grande capacidade para a condução de negócios materiais, um grande espírito, eloqüencia e semelhantes. Com efeito, em todas estas coisas exteriores devemos desejar que os outros sejam mais bem sucedidos que nós».
Que vem a ser o espírito de humildade? Isso acontece toda vez que sentimos prazer na humilhação, quando procuramos a abjeção, a nulidade, a humildade em tudo que fazemos, dizemos ou desejamos, amando esta situação.
Francisco de Sales desenvolve em seus Colóquios ou Entretenimentos cinco degraus de humildade. Faço aqui uma breve apresentação porque acho-os de grande importância, não só para religiosos e religiosas, e cristãos em geral, mas particularmente para todos os educadores, onde quer que trabalhemos, independentemente de nossos cargos ou posições. Quantas vezes nos deparamos com situações difíceis e inesperadas, diante de alunos, pais, colegas de trabalho ou mesmo colaboradores. Nestes momentos precisamos invocar mais insistente e confiantemente os Santos educadores F. de Sales e D. Bosco.
Um confronto entre os dois Santos mostra algumas afinidades “salesianas”
Os dois servos de Deus estão presentes hoje, diante de seus filhos espirituais ou devotos como verdadeiramente dois irmãos reunidos no Céu. Um parece ser, em geral, a continuação do outro, em se tratando de suas convergências espirituais. Ao estudá-los se nos apresentam ricos de dons extraordinários de natureza e graça que se manifestam tanto em suas doutrinas, como na prática das mais altas virtudes.
A estatura moral e espiritual do santo da Sabóia, seu zelo pela salvação das almas, sua fidelidade à Igreja, além de sua bondade, paciência e mansidão foram atributos admirados, assumidos e vividos por D. Bosco. Estas características fazem parte profundamente do ser de ambos e estão cimentadas em dois pilares mestres da espiritualidade vividas por ambos: o amor é a totalidade de Deus e a totalidade do homem. Duas colunas mestras, onde se observam as afinidades espirituais do saboiano e do piemontês. Vejamos pois, algumas particularidades de suas respectivas atitudes espirituais e as características do zelo pastoral e educativo de ambos.
Cada servo de Deus apresenta uma espiritualidade própria, bem definida, peculiar. Nossa tarefa seria definir o que D. Bosco colheu de duradouro e essencial na espiritualidade de F. de Sales, de tal modo que possamos falar de um um espírito comum, característico dos dois e que tenha orientado praticamente a vida apostólico-educativa do Santo piemontês.
Arnaldo Pedrini em seu estudo San Francesco di Sales e Don Bosco, apresenta alem do elemento fundamental, comum a todos e essencialmente evangélico que é o Amor, a Caridade pastoral, três outros pontos constantemente presentes em F. de Sales e em João Bosco: o humanismo devoto-otimista, a santidade, chamado universal para todos em qualquer tempo e idade e o êstase da vida (união com Deus). Em nosso estudo, como já assinalamos, seguimos a clasificação do J. Aubry, que descreve três afinidades “salesianas” em D. Bosco, fundamentalmente o mesmo que o Pe. Pedrini.
1. Uma sólida identidade pastoral
Conhecendo a atividade pastoral dos dois homens de Deus não se pode deixar de observar a firmeza da identidade pastoral vivida por ambos. Francisco antes de ser intelectual, escritor e teólogo foi sobretudo um bispo. Seu tirocínio árduo e horóico de quatro anos de sacerdócio preparou-o, ajudado por suas capacidades e responsabilidade, para o bispado. Esquecido de si e recusando qualquer outra dignidade, doou-se incondicionalmente aos seus fiéis, ensinando, celebrando, santificando-se e santificando. Seu mote pastoral era: “aprisionado por Deus, doado ao seu povo”.
A mesma paixão pelas almas consumia o coração dos dois santos.O sacerdócio de D. Bosco, arduamente conquistado, ocupou e marcou toda a sua vida. Não foi outra coisa, senão sacerdote e um sacerdócio carismaticamente orientado para os jovens, para fazer-lhes o bem de modo especial aos mais carentes. Não se tratava de educador que era também padre, que na missão sacerdotal exercia a nobre missão de educador. Como sacerdote fundou as três famílias religiosas e lançou-as no mundo missionário em busca dos jovens, orientando-os na direção de Cristo. Seu zelo missionário foi incansável até o final de seus dias. Assim, vemos que a mesma paixão pelas almas e o amor pelo apostolado são a tônica inconfundível dos dois missionários de Deus no serviço à Igreja. Vale relembrar que o sucesso de toda esta atividade e projetos realizados não eram necessários para que eles se destacassem. Era impressionante a
«calma interior de ambos, com a igualdade de humor a tranqüilidade sorridente, a capacidade de tornar as coisas uma após outra, sem qualquer tensão, senão a do amor de Deus, a quem desejavam servir» .
2. O centro de tudo para ambos era o amor
É outra das afinidades que norteam a espiritualidade de nossos dois santos. Um conferencista em, 1939, resumia na seguinte frase sua maneira de captar a semelhança de atitudes e serviços entre um e outro:
«Tentar a experiência do efeito milagroso da caridade sobre os males que afligem a humanidade, eis opensamento comum que estabelece o parentesco entre Francisco de Sales e João Bosco» .
Um, o bispo de Genebra, enfrentou no século XVI, uma crise cultural, social e religiosa (Reforma, Renascimento e Concílio de Trento). O outro viveu o Ressurgimento e a problemática do início da Era industrial. Ambos, grandes otimistas, não aceitavam o pessimismo protestante ou jansenista, mas pregavam uma visão claramente positiva do homem e da história.
Sabiam e sentiam profundamente que Deus é amor, por isso encarnaram esta característica divina no centro de suas existências. Esta a realidade sublime e confortadora, já lembrada por S. João: a totalidade de Deus é amor este atributo deve tornar-se também a totalidade do homem.
«Este é o meu mandamento:amai-vos uns aos outros, como eu vos amo. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá sua vida por seus amigos. Vós sois meus amgios, se fazeis o que vos mando... O que vos mando é que vos ameis uns aos outros» .
S. Francisco de Sales e S. Agostinho são conhecidos como os “doutores do amor”. Pio XI definiu D. Bosco como o “gigante da caridade”. O Deus adorado e pregados por ambos é misericordioso e terno e chama-se Jesus, o Bom Pastor que entrega sua vida por todos nós, suas ovelhas. É um Ser paciente que sabe esperar indefinidamente pela convesão do pecador. No Tratado do Amor de Deus vemos como se comporta este Deus paciente. Na segunda meditação do Jovem Instruído D. Bosco escreve aos jovens: «Vóis sois a delicia e o amor daquele Deus que vos criou, e vos criou para a vossa felicidade» . Tanto um santo como o outro tinham clara a convicção de que o homem é orientado para Deus. Seu fim é amar a Deus, reconhecer e responder a este amor.
«O sentido do universo, da história e de cada destino pessoal é o encontro afetuoso de Deus, que procura o homem, com o homem, que procura Deus; desse amaor jorra a abertura de si ao encontro fraterno. A substância da educação é, pois, iniciar no verdadeiro amor (o negrito é nosso). Começamos a ser salvos quando começamos a amar e para amar não há necessidade de esperar ocasiões extraordinárias: amar é possível em toda a parte, sempre, nos deveres e nos encontros cotidianos»
3. As atitudes pastorais “salesianas”
No entendimento dos dois santos vemos que a caridade não é somente a origem e o fim do trabalho pstoral em prol da salvação das almas. Ela se torna o método do amor pastoral, meio por excelência e forma do apostolado. Esse método deve ser usado tanto pelo padre, como pelo bispo e pelo educador. “Antes de ser ação, o apostolado é relação pessoal de amor”. A educação, como toda ação, se não forem impregnadas pelo amor estarão fadadas ao fracasso e ambos educador e educando seremos eternos frustrados. Foi esta convicção que desenvolveu em Francisco e Bosco «comportamentos típicamente “salesianos”»:
• O “humanismo” ou o otimismo.
• A confiança radical no homem, em suas capacidades naturais e sobrenaturais.
• A exaltação dos valores e virtudes “humanas”.
• O uso de meios pedagógicos como a afetividade, a alegria, a cultura, o progesso.
• O crença no valor da ação.
• Ambos acreditaram na educabilidade da pessoa, apelando para seus dotes interiores: inteligência, liberdade, coração, fé (razão, religião, bondade). Toda esta ação, condicionada na paciência que sabe esperar (contra toda esperança) e recomeçar.
• Outra característica encontrada nestes homens é a atitude do bom Pastor. Aquele que ama suas ovelhas e procura ser amado por elas na esperança de conduzí-las a Deus. É a amorevolezza tão cultivada por D. Bosco no respeito sincero e na aproximação acolhedora por todos, pelo mais pobre, menos simpático, mais solitário e marginalizado. Neste particular procurava causar alegria, usava do humorismo, era tolerante para com os defeitos e ingratidões. Deste modo tanto um santo como o outro conseguiram despertar extraordinária simpatia durante toda a vida.
Pode-se ainda afirmar que o “método” de ambos era realista e audaz, característica do verdadeiro amor que não é romântico, mas objetivo e prático. Construiram uma apologética popular.e assim tornaram-se conselheiros procurados por inúmeras pessoas.
«Na pregação e nos escritos expressaram um pensamento equilibrado, usaram palavras simples, linguagem imaginosa, estilo concreto e florido. Não prertenderam de seus ouvintes uma santidade imediata ou rígida: ensinaram uma ascese moderada, decididamente concreta e prática, e instilaram o sentido da fidelidade cotidiana».
Francisco, missionário do Chablais, costumava colocar por baixo das portas manifestos e folhetos difundindo suas idéias e seus conselhos. Mais tarde será será escolhido padroeiro dos jornalistas. D. Bosco batalhou corajosamente na imprensa popular, escrevendo inúmeros trabalhos. Será proclamado padroeiro dos editores católicos. Grande comunicador sería hoje o padroeiro da comunicação social.
• O bispo de Genebra na tradição dos SDB
Durante toda a vida, D. Bosco foi não só um entusiasta e seguidor do bispo genebrino, mas alguém que constantemente procurou inspirar-se em seu santo protetor. Era constante nos últimos meses de sua vida, a preocupação de seu espírito pelo futuro de sua obra, pela atividade de seus filhos. Lembrava constantemente seu Protetor, de quem certeza o Espírito Santo lhe havia dado o zelo apostólico e a bondade de coração.
Estamos na festa da Imaculada, 8 de dezembro de 1877, última Missa celebrada pelo Santo . Na tarde do dia anterior o Oratório fora visitado por Dom Doutreloux, bispo de Liège, Bélgica, que solicitara a fundação de uma casa salesiana em sua cidade. A resposta, tendo em vista a escassez de pessoal, seria negativa. No dia seguinte pela manhã, D. Bosco chorando falará ao Pe. Viglietti de um sonho que tivera durante a noite:
«Palavras literais que a Virgem Imaculada me dissse, aparecendo-me esta noite: agrada a Deus e à Beata Virgem Maria que os filhos de S. F. de Sales abram uma casa em Liège, em honra do SS. Sacramento».
Exemplos do comportamento de D. Bosco, ligados ao Sales são as atividades voltadas para os escritos como as Leituras Católicas, o Jovem Instruido e de modo todo particular as Memórias do Oratório de S. F. de Sales «o livro que comporta uma visão global de todo o seu apostolado juvenil». Os SDB terão como tarefa no futuro a imitação dos exemplos do Fundador e o estudo constante do espírito do Patrono, a fim de que possam estas riquezas espirituais serem transmitidas às futuras gerações.
• Os quatro primeiros sucessores de D. Bosco
Os sucessores de D. Bosco, notadamente os três primeiros se abeberarem sequiosamente nesta fonte de patrimônio familiar. Seus escritos e Cartas Circulares frequentemente trazem referências às Obras do Santo Patrono, demonstrando conhecimento e familiaridade com o inspirador do título da Sociedade Salesiana. O 3º Centenário da morte de F. de Sales (1622-1922) foi um dos momentos mais evidentes «deste fenômeno de singular e devota dependência».
1. Pe. Miguel Rua
Costumava usar de alguns apelativos quando deveria se referir a S. F. de Sales: o nosso glorioso Patrono; o Santo Doutor, amabilíssimo S. F. de Sales. Pe. José Vespignani nos diz que as reuniões no escritório do Pe. Rua começavam com algumas orações e um pensamento de S. F. de Sales, teminando do mesmo modo e com a leitura de uma das Mássimas do Santo.
A familiaridade do padre Rua com S. Franciso fazia-o citar em temas ascéticos, de direção espiritual e relativos à Comunhão.
«Se queres caminhar com segurança no caminho da verdadeira piedade – diz S. F. de Sales - procura que te dirijam ... Meu Deus, quanto serei feliz, se um dia após a Comunhão eu encontrasse meu coração fora do peito e no seu lugar o de meu Bom Jesus»
No conhecimento e na imitação de S. F. de Sales, o Pequeno D. Bosco, como Pe. Rua era chamado, foi um fidelíssimo discipulo do mestre de Valdocco.
2. Pe. Paulo Álbera
Pe. Álbera, impressionado ao notar a fiel observância de D. Bosco aos ensinamentos da Filotéia, declarou-o «discípulo de S. F. de Sales».Exemplos deste comportamento são os escritos como as Leituras Católicas, o Jovem Instruido e de modo todo particular as Memórias do Oratório de S. F. de Sales «o livro que comporta uma visão global de todo o seu apostolado juvenil». Em uma das Cartas Circulares aos Salesianos, o segundo Sucesssor de D. Bosco escreveu:
«Lendo com pia devoção as biografias [de S. F. de Sales] escritas por seus contemporâneos e também pelos modernos, sentimo-nos como que invadidos por uma pedagogia realmente sobrenatural, enquanto nosso pensamento corre espontâneo a uma outra vida que na maior parte se desenvolve sobre nossos olhos e que quase vivemos antes que fosse escrita e divulgada. Os princípios educacionais são os mesmos: a caridade, a amabilidade, a familiaridade, o santo temor de Deus infuso nos corações: prevenir, impedir o mal, para não ser obrigado a puni-lo».
Pe. Ricaldone, comentando temas sobre a vida religiosa e ascética, tais como a piedade, a mortificação, a castidade e a amizade, assuntos abordados por Álbera em suas Circulares, escreve:
«Nas Circulares de Pe. Álbera encontramos um exemplo e um convite a tornar familiar o pensamento de Sales sobre os vários pontos da perfeição. Por exemplo, falando de Deus: “quando vier aquele dia em que nós, segundo a imaginosa expressão de S. F. de Sales, nos deixarmos levar por Nosso Senhor como um menino entre os braços da mãe?”».
Sobre a fé:
«Lembremos os sentimentos da gratidão de nosso S. F. de Sales que exclamava: - “meu Deus, grandes e numerosos são os vossos benefícios e eu Vos agradeço. Mas, como poderei agradecer-Vos convenientemente de ter-mes concedido a luz da Fé? Essa me parece tão maravilhosa que eu pensando, sinto-me desfalecer de amor”» .
Continuamos com as observações feitas pelo Pe. Ricaldone às citações do segundo Reitor dos Salesianos sobre a vida espiritual do Protetor da Sociedade. Com relação às graças que recebemos de Deus, Sales costumava dizer que elas choviam das suas mãos, tão numerosas como os flocos de neve caiam sobre as montanhas da Sabóia. A obediência era para ele como o sal, ela deve dar gosto e sabor a todas as nossas ações.
D. Bosco ensinava que a obediência deve ser humilde. Comentando este pensamento Pe. Álbera cita F. de Sales, quando diz:«O Salesiano sabe que é seu dever ser humilde instrumento nas mãos dos Superiores. Sua conduta é a prática ininterrúpta da mássima de nosso Santo Protetor: nada perguntar, nada refutar». Quanto às correções fraternas, o Reitor contiua:
«Faz-se necessário deixar que as coisas estejam calmas de ambas as partes e então a correção se tornará honrosa para quem a faz e verdadeiramentre proveitosa para quem a recebe. S. F. de Sales ensinava isto e o mesmo fazia nosso caríssimo D. Bosco [...]. Sigamos o exemplo de S. F. de Sales que dizia ter feito um pacto com a língua: falar somente quando o coração estivesse tranqüilo» .
3. Pe. Felipe Rinaldi
O conhecimento do pensamento do bispo de Annecy continua sendo explorado com o terceiro Reitor dos Salesianos. Pe. Rinaldi costumava apresentar D. Bosco como «uma das mais esplêndidas personificações da caridade nos nossos tempos», assim como S. F. de Sales era tido «como o educador singular e perfeito». A idéia das festas tricentenárias em homenagem ao patrono da Congregação foi do Pe. Álbera, mas quem as realizou com pleno êxito foi Pe. Rinaldi, profundo conhecedor do seu pensamento e da dinâmica apostólica do Santo Bispo. Insistia para que os SDB estudassem-no e conhecessem a obra, então recente do Pe. Céria «A vida religiosa nos ensinamenos de S. F. de Sales». No sentido de incentivar os estudos aos sócios, sobretudo aos sacerdotes escrevia:
«Por isto D. Bosco, que nos mostrou claramente, desde os sacrifícios heróicos de sua meninice, quanto gostasse do estudo, deu-nos como Protetor S. F. de Sales,o Santo Doutor que chamou o estudo o oitavo sacramento para um sacerdote» .
Pe. Rinaldi não era apenas um repetidor de frases ou pensamentos“salesianos”, mas procurou mostrar o Protetor da Congregação como um exemplo típico de santidade na esteira luminosa do Pai e Mestre.
«D. Bosco começou sua obra na sombra de S. F. de Sales...: compreendeu que S. F. de Sales devia ser o seu modelo; embora as obras fossem diferentes, todavia ele viveu a vida do seu espírito de amabilidade, de mansidão e de zelo em defesa da fé».
Ao primeiro grupo das Voluntárias de D. Bosco (1920) insistia na mansidão do bispo de Genebra:
«Pedi também ao E. Santo que vos ilumine no novo ano. É com prazer que relembro a mansidão de Jesus Menino, porque é o mês de S. F. de Sales, o mestre da humildade e da mansidão» .
No Jubileu de Ouro das nossas Constituições , “como que assumindo toda uma tradição de espiritualidade salesiana” assim se expressava em uma de suas Cartas Circulares:
«E aqui me vem espontâneamente uma outra reflexão. Como é que nós, para honrar nosso celeste Patrono no terceiro Centenário de sua morte procuramos estudar nos seus escritos as linhas características de nossa fisionomia moral e do espírito que informa a Sociedade, de tal modo que aquela leitura nos tenha suscitado o desejo de rever as mesmas linhas e o mesmo espírito também nos escritos do nosso Venerável Pai e dos seus imediatos sucessores Pe. Rua e Pe. Álbera»?
O terceiro sucessor de D. Bosco manifestou diversas vezes calorosos e insistentes convites aos Salesianos no sentido de celebrarem devotamente as festas do Patrono. Aqui transcrevo uma citação, talvez um pouco longa de ded 1924, ocasião das efemérides celebrativas dos cinqüenta anos da aprovação das Constituições Salesianas.
«S. F. de Sales é um educador singular de perfeição e suas obras são todas entremeadas daquela pedagogia que dois séculos depois nosso Fundador soube imprimir admiravel e prodigiosamente não mais no papel, mas na Sociedade por ele criada para a salvação da juventude e por ele batizada com o nome de Salesiana, justamente para indicar aos sócios futuros a fonte que devem procurar de quando em vez, para possui-la sempre abundante e vital».
Numa oração, terna, filial e quase comovente Pe. Rinaldi invoca as bênçãos do Patrono sobre os Salesianos e todas suas obras.
«S. F. de Sales, nosso glorioso Patrono, nos obtenha do Senhor seu espirito de mansidão e de paz que reine sobre nós, o espírito que nosso Pai D. Bosco nos deixou nas santas Constituições, de tal modo que possamos praticá-lo suave e constantemente [...]. O bom Pai nos ajude a construir este Paraiso terrestre em cada uma de nossas casas, infundindo em nosso coração o espírito de amor e aquela piedade, que no dizer de S. F. de Sales é o amor que adoça a fadiga e faz com que trabalhemos de coração, felizes e com afeto filial nas obras que dão satisfação a Deus, nosso Pai e servem para conduzir muitas almas a Ele».[...] «S. F. de Sales faça com que sejamos seus verdadeiros seguidores».
4. Pe.Pedro Ricaldoni
O grande intérprete dos escritos de S. F. de Sales continuou a tradição em termos da devoção àquele Santo. Ao finalizarmos este capítulo passemos-lhe a palavra.
«Aquele Pai [Nosso], Ave e Glória, seguido pelo Oremos próprio do Santo, que recitamos todo dia, após a leitura espiritual, deve sempre brotar do íntimo do coração, como uma constante homenagem da nossa devoção e reconhecimeto para com o Santo Patrono e Titular».
Logo após a canonização de D. Bosco alguns acharam que dada a proximidade de sua festa litúrgica [31 de Dezembro] com a do Patrono [24 de ] e a indubitável precedência do Fundador sobre o Titular, não se devia mais dar muita importância á devoção do santo bispo de Genebra. Pe. Ricaldone não endossou a idéia, tachando-a de errônea.
«Mas não é assim. E todos nos devemos opor ao perigo desta [idéia], que seria uma grave desgraça para o espírito de piedade da Família salesiana de Dom Bosco [...]. Esforcemo-nos então para honrar nosso santo Patrono e Titular com o acrescido desejo de recopiar sua piedade e assim também a admirável bondade, o zelo pela salvação das almas, o afastamento das criaturas e de toda afeição humana».
Reafirmando seu pensamento o 4º Geral dos SDB sugere algumas das obras salesianas, onde os salesianos de D. Bosco poderão se alimentar espiritualmente. Terminaremos este capítulo com este lembrete e pedido do Pe. Ricaldoni.
«Grande devoção ao nosso Patrono e Titular é também a leitura de seus admiráveis escritos, que tanto encorajam em direção à santidade cristã e à perfeição religiosa. A Filotéia, o Teótimo, as Cartas espirituais, os Trattenimenti podem constituir um delicioso alimento para nossas almas[...]. Nós Salesianos portanto não nos contentaremos de levar em nosso nome o sinal mais manifesto e eloqüente da nossa devoção a S. F. de Sales, mas procuraremos assegurar a vitalidade desta mesma devoção com meios ora indicados pelo segundo Sucessor de D. Bosco A coroá-los teremos sempre cara a data de 19 de de 1854, início da Novena do Santo Patrono e do nome Salesiano e celebraremos a festa anual como desejava o nosso Pai (D. Bosco)».
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